Uma vez que a Animação é uma atividade que permite dar vida a imagens desenhadas que originalmente têm natureza estática, os mais variados estilos de traço podem proporcionar experiências únicas aos espectadores. Uma abordagem mais cartunesca, por exemplo, pode transmitir uma dada mensagem que um estilo mais realista não conseguiria, e vice-versa. Ao mesmo tempo, determinados gêneros criativos são mais comumente associados a determinadas escolhas artísticas, mesmo que isso não seja algo necessariamente obrigatório, e abordar esses conteúdos fora de sua natureza usual pode implicar em riscos comerciais, ainda que talvez represente uma proposta no campo simbólico para o artista envolvido.
Dessa forma, uma compreensão do papel que essa seleção visual implica no conteúdo que se deseja apresentar na forma de animação é importante para que o profissional consiga transmitir de forma eficiente sua mensagem e alcance os objetivos estabelecidos ao dar início no seu processo particular de criação. O campo da semiótica, primeiramente abordado pelo filósofo John Locke (1632-1704) e academicamente acolhido a partir dos trabalhos do lingüista francês Ferdinand de Saussure (1857-1913) e do americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), se dedica ao estudo dos signos enquanto representação para idéias e conceitos e é um ponto de partida de grande relevância para uma análise dos diferentes estilos de traço com suas características particulares e seus significados.
Conforme crescemos em sociedade, nós absorvemos muitos códigos de interpretação de elementos a partir daquilo que nos cerca, muitas vezes estabelecendo relações entre imagens, sons e conteúdos com uma fase específica da vida. Daí surge a noção errônea a que muitos ainda se limitam quando consideram desenhos animados como material relevante apenas para o público infantil. Essa percepção tem sido felizmente alterada desde a virada do século, com a crescente expansão e diversidade nos conteúdos disponibilizados para o público, com muitos segmentos de mercado recebendo atenção especial e alcançando, dessa forma, indivíduos que antes tinham uma compreensão limitada sobre a natureza da animação. Dentro dessa questão, nenhum lugar no mundo possui maior exploração da segmentação de mercado que o Japão. O mercado japonês de mangás é oriundo de uma representação gráfica do folclore e da história do país há séculos, mesmo antes de a mídia ganhar os contornos usuais que a caracterizaram, e dentro dessa mentalidade de que todos consumem esse tipo de conteúdo, surgiu a busca por parte das editoras para atender aos mais variados nichos de leitores, desde aqueles que têm preferência por cenas de luta como aqueles que anseiam por romances ou que buscam por uma válvula de escape filosófica para sua rotina nas grandes metrópoles. Um detalhe, porém, é que mesmo gêneros diferentes possuem certos recursos de representação comuns com relação à identidade visual com que são retratados, como, por exemplo, a estilização da aparência dos protagonistas, com os olhos mais proeminentes e expressivos, cortes e cores de cabelo mais chamativos ou trajes peculiares que os distinguem dos demais personagens com quem interagem. No Ocidente, a percepção do público acabou por, dessa forma, englobar a abordagem japonesa dentro de uma única categoria, como Mangá para as Histórias em Quadrinhos e Anime para o campo da Animação, ainda que, dentro da sociedade nipônica, os subgêneros possuam particularidades que os distinguem entre si. Uma vez que certos elementos visuais associados a essa formatação são notados pelo público não apenas brasileiro, mas ocidental como algo que desperta sua atenção, surge de forma orgânica uma série de expectativas com relação a esse material.
Da mesma forma, isso ocorre quando dedicamos nosso olhar a obras com teor mais cartunesco, onde os movimentos são exagerados, os recursos sonoros têm peso na compreensão da relação entre ação e conseqüência, muitas vezes de forma até visual através de onomatopéias, e uma representação mais simplificada das formas humanas. Os recursos visuais aplicados a uma animação desempenham parte da mensagem que o espectador vai absorver daquele conteúdo. Obras com carga mais pesada no recurso de luz e sombra, ângulos mais retos e traços mais realistas, igualmente, também evocam uma atmosfera distinta, em geral associada a obras policiais ou de conteúdo mais adulto.
Saber selecionar bem o estilo no qual o profissional de animação vai criar seu material é fundamental para conseguir alcançar seu público alvo e, dessa forma, se estabelecer no mercado de trabalho. Mesmo variações aos estilos comumente associados com determinado gênero criativo das animações são interessantes para o público no caráter de curiosidade, mas de um ponto de vista comercial, esse tipo de empreendimento em geral não se sustenta, enfrentando resistência até que alcance um status próprio que lhe permita ter uma identidade visual alheia aos gêneros. Subversões inerentes à experiência que a obra quer proporcionar podem ser encontradas em filmes como “Cilada Para Roger Rabitt”, “Watership Down” e “Fritz, the Cat” (este baseado no comix underground criado pelo norte-americano Robert Crumb), ou mesmo em sequências do seriado “Family Guy”, “Rick and Morty” e outras séries de caráter satírico.
Recentemente, uma produção publicada na plataforma Youtube sofreu por conta da disparidade com relação ao estilo de animação que lhe foi empregada, e vale ressaltar que o produtor do vídeo não estava errado ao realizar a escolha artística com a qual desenvolveu seu conteúdo, mas que é importante que o artista tenha consciência dos recursos e obstáculos de que dispõe ao empenhar seu esforço e tempo sobre um projeto, em relação às suas pretensões para com este, uma vez que ele tenha sido liberado ao público.
Poucas semanas atrás, em 23 de Julho de 2020, o artista norte-americano Narmak publicou em sua conta do Youtube o vídeo “Suponjibobu Anime Ep #1: Bubble Bass Arc”, uma versão no estilo anime shonen (subgênero de animação japonesa, majoritariamente voltado para o público masculino adolescente e jovem adulto) a partir da série animada “Bob Esponja”, produzida pelos estúdios da Nickelodeon. Normalmente, o estilo de arte aplicado às histórias do personagem são estilizadas no cartum clássico, porém, o artista desenvolveu uma proposta para homenagear a série com uma abordagem ao estilo dos seriados animados de luta. A resposta da internet foi significativa, com mais de um milhão de curtidas na página onde o vídeo foi postado, contudo, mesmo com as configurações estabelecidas pelo criador do vídeo e dono do canal de que seu conteúdo não era voltado para crianças, o algoritmo da rede social considerou que ele deveria ter relação com o conteúdo original do personagem e, por conta de uma linguagem mais elaborada e conteúdos mais adultos na obra, o sistema bloqueou o vídeo alegando estar em desacordo com as diretrizes do sistema. Posteriormente, o autor entrou em contato com os administradores do site, após muitas tentativas que eram apenas respondidas de forma mecânica pelo servidor, e, com o engajamento do seu verdadeiro público alvo, que foi às redes sociais pedir a liberação do material, conseguiu reverter o cenário e tornar disponível mais uma vez o acesso à sua obra, que representou meses de trabalho e empenho de todos os artistas envolvidos, tanto em termos de produção da arte quanto dos responsáveis pela dublagem do material na língua japonesa e a criação das legendas a partir do roteiro original.
Essa situação toda se deu por uma questão que a semiótica estuda e que é inerente a todo tipo de signo que é a sua intertextualidade – ou seja, sua relação com outros signos além daqueles aos quais ele próprio apresenta de forma independente. Os signos, ou recursos visuais, normalmente associados ao personagem Bob Esponja estavam sendo retratados de uma forma diferente de sua abordagem usual, e isso tinha um significado. Todas as escolhas na construção de uma obra tem significado.
Do ponto de vista comercial, a animação, por mais qualificada que seja, encontra também as restrições de capitalizar a partir do momento que se trata de uma obra de propriedade intelectual atrelada a outras partes não envolvidas nesse desenvolvimento. O autor pode buscar um acordo com os detentores desses direitos para viabilizar meios legais de receber capital por seu trabalho, mas apenas com sua postagem da animação, seu conteúdo tem caráter exclusivamente de lazer ou de amostra de suas capacidades técnicas enquanto animador. Ele estava consciente disso durante o processo de criação de seu material, e ter consciência da escolha de estilo à que o profissional de animação vai atrelar sua obra é algo fundamental para que os objetivos desejados pelo autor possam ser alcançados.
Visando dar uma compreensão plena ao profissional de animação, a Escola de Artes Visuais Lipe Diaz oferece em caráter introdutório o Curso de Desenho Base, onde são ministrados os princípios de uma boa apresentação de técnica visual comum a todos os estilos artísticos, o Curso de Desenho Digital, onde se aprimoram conceitos que o aluno entender como relevantes para a composição de sua mensagem, o Curso de Histórias em Quadrinhos & StoryBoard, onde é trabalhada a compreensão da sequência de imagens para uma construção de ordem temporal dos eventos a serem representados, e o Curso de Animação Tradicional, onde esses conceitos vão ser todos desenvolvidos junto aos professores para a criação de conteúdo animado inédito. A escola, inclusive, detém o título de Primeiro Centro de Treinamento Oficial da ferramenta ToonBoom para criação e desenvolvimento de animações no Brasil, oferecendo cursos de especialização exclusivos com profissionais experientes do mercado.
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Texto: Gabriel Guimarães - Fundador do "Quadrinhos para quem gosta"
Artes: Léo Siqueira - Instrutor de Animação Tradicional, Diretor de Arte e Animador Profissional
Demo Reel: Emanuel Rocha - Aluno e Animador Profissional
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